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Arquitetos: Inês Brandão Arquitectura
- Área: 394 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Alexander Bogorodskiy
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Fabricantes: ADF, BRUMA, Ecolux, Imperalum, Sanindusa, Sapa
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa no Crato foi desenhada para um casal amante da natureza e do silêncio, que procurava um lugar de refúgio, longe da agitação da cidade. Situa-se no alto Alentejo, numa propriedade com cerca de 70 hectares, onde os carvalhos, as azinheiras, os sobreiros e as giestas povoam os diversos montes e criam uma paisagem idílica. Um pequeno riacho atravessa todo o terreno, dando origem a uma lagoa que serve como ponto de refresco para os animais de pastoreio.
A ausência de elementos construídos possibilitou que se desenhasse a proposta tendo como ponto de partida a natureza. A implantação da casa foi feita no topo de uma colina, com vista privilegiada para a lagoa e os montes circundantes, e a sua forma em cruz derivou da adaptação da construção ao lugar e às suas pré-existências naturais, contornando as árvores em seu redor, sem que nenhuma destas tenha sido derrubada. Ao moldar a construção em torno das árvores, permitiu-se que cada um dos seus quatros braços fosse inteiramente rodeado pela paisagem envolvente que penetra no interior de cada espaço, criando a ilusão de uma construção de escala mais reduzida.
A entrada na propriedade, situada a uma cota inferior, enuncia um percurso que serpenteia o terreno, permitindo a quem aqui chega absorver o ambiente da região, não revelando de imediato a casa e a paisagem no seu todo.
A partir deste percurso chegamos ao vestíbulo de entrada, que consiste no ponto de interseção dos dois eixos que definem a organização espacial da casa, e a partir do qual se acede aos restantes espaços. No volume contíguo à entrada encontramos o espaço de refeições e a sala, que se abrem de forma franca para a extensa vista do montado. Na extremidade deste braço surge o escritório – um espaço de carácter mais intimista separado dos restantes através de um alpendre, e com uma relação mais “serena” com a paisagem.
No volume perpendicular ao anterior, surge a cozinha, a uma cota mais baixa, com uma relação próxima com a piscina que dela se vislumbra, conferindo a este espaço um carácter lúdico e de convívio. Por considerarmos que a casa e a paisagem se fundem num só elemento, foi essencial pensar nos arranjos exteriores de forma coerente, escolhendo plantas adaptadas ao clima, com pouca manutenção e resistentes à seca, com o objectivo de criar ambientes específico para cada área. Neste caso, no espaço exterior junto ao alpendre da cozinha, foram plantadas várias espécies de plantas aromáticas, como o tomilho, a erva príncipe e o alecrim, que além do cheiro, podem ser utilizadas na confecção de alimentos.
Por fim, no lado oposto ao da cozinha, desenvolve-se o volume dos quartos, a uma cota mais elevada, acessível através de uma escada, que se prolonga para o corredor que dá acesso aos quartos e que se encontra pontuado por um conjunto de aberturas verticais que permitem a iluminação natural do espaço, mas que mantêm a privacidade desta área. Cada quarto tem uma relação independente com a paisagem, usufruindo de uma vista mais controlada, dada a topografia que os acolhe. A lavanda e outras espécies de pequena dimensão formam a bordadura junto aos alpendres dos quartos, reforçando a tranquilidade inerentes a estes espaços. Adoçada a este volume encontramos uma fonte, que reforça a presença do elemento água junto a casa, servindo também como bebedouro para os animais que se aproximem.
Ao longo de toda a casa foram criados alpendres que funcionam como espaços de transição entre o interior e o exterior, permitindo que a vivência das áreas habitáveis se encontre com a paisagem alentejana em lugares de permanência à sombra. Estes espaços podem ser ocultados por portadas perfuradas de aço corten, uma reinterpretação do “muxarabi” - elemento da arquitectura vernacular árabe, que controlam de forma passiva a temperatura no interior da casa, dado que permitem o encobrimento e a ventilação constante destes espaços.